Fast-Food Vegetariano/Vegano e os Ultraprocessados

Fast-Foods agora oferecem opção vegetariana e vegana. Olha, que legal! Então quer dizer que agora eles são veganos? Eles são vegetarianos? Finalmente se conscientizaram da importância desses movimentos no mundo? Será que agora tem mais preocupações sociais? Talvez eles tenham criado consciência ecológica, talvez tenham deixado de favorecer o agronegócio, diminuído o uso de plástico, reduzido o consumo de recursos naturais. Será? O que um “bife” vegano/vegetariano diz sobre eles? E o que consumirmos esses produtos diz sobre nós?

Antes de continuar é importante ter em mente duas definições. A primeira: o que é um fast-food? Uma lanchonete ou restaurante em que a comida ou refeições são preparadas e servidas com rapidez, em geral com uso de muitos descartáveis. Pra ser rápido e ‘barato’, as grandes redes utilizam muitos ingredientes industrializados e ultraprocessados. 

Aqui temos a segunda definição importante: o que são ‘alimentos’ ultraprocessados? Você já ouviu falar sobre isso? Vamos lá:

“Alimentos ultraprocessados, são produtos que estão prontos para consumo, necessitando de aquecimento ou não, com formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivados de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes). [1]

“São exemplos de ultraprocessados: biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”, refrigerantes e macarrão “instantâneo”. Como alguns ingredientes e métodos do processamento alteram desfavoravelmente a composição nutricional dos alimentos, como por exemplo, aumentando o conteúdo de sódio do alimento, ou a quantidade de calorias, o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que tais alimentos sejam consumidos em pequenas quantidades. No caso de alimentos ultraprocessados, por serem nutricionalmente desbalanceados, a recomendação é evitá-los.” [2]

Sendo assim, cabem algumas perguntas: do que estamos nos alimentando?; qual a qualidade do que nos alimenta?; quais impactos nossas escolhas alimentares estão produzindo? Perguntas como essas nos ajudam a compreender que - comer é um ato político-.

O capitalismo, sistema econômico, político e social majoritário no planeta, é fágico. Enquanto ele come nosso tempo, precisamos ser muito produtivos, precisamos comer rapidamente para trabalhar mais e, o ato de comer – comprar, cozinhar e se alimentar – se torna de importância secundária. Logo, os fast-foods resolvem esse problema! ‘Resolve’ impactando nossa saúde com ultraprocessados feitos com a alta produtividade de agronegócios às custas do uso excessivo de agrotóxicos. 

O sistema também é fágico com demandas sociais, ou seja, consegue transformar pautas importantes, como o veganismo, em produtos. Vender um estilo de vida está em alta e o capitalismo faz essa apropriação com velocidade e maestria. Logo, não é como se essas empresas, magicamente, começassem a se preocupar com questões ambientais e com a saúde de seus clientes, ao disponibilizar opções vegetariana/vegana. Imagine o dono de uma dessas grandes redes, com uma conta bancária bem gordinha, sentado em seu escritório, recebendo os relatórios de que eles estão “perdendo” 1% do mercado e que não houve crescimento do faturamento, é o fim do mundo para ele. O mercado diz que eles devem crescer, crescer e crescer, não importa como. [3] 

Aí, ele finge que é um cordeirinho e começa a vender produtos vegetarianos/veganos e todo mundo comemora com o lobo na sala! Através de um golpe propagandístico, contando com a desinformação da sociedade que os atuais sistemas político garantem, eles trazem de volta esses lucros, trazendo de volta como consumidores uma parcela da sociedade que eles já não atendiam com a venda de produtos a base de carnes e derivados.

Além do slow living os movimentos vegetarianos e veganos fizeram surgir uma porção de pequenos negócios pelo mundo que estão de fato preocupados com questões socio-ambientais-políticas ligadas ao ato de comer. Negócios que se preocupam com a cadeia produtiva de suas comidas, desde remunerações justas, plantio agroecológico, potencial nutricional dos ingredientes e até o uso de embalagens com menor impacto ambiental. Atitudes que os fast-foods e empresas de ultraprocessados estão longe de ter interesse, apesar de tentarem com grande empenho nos convencer do contrário. Como por exemplo a nova campanha do mcdonalds sobre a troca das bandejas. 

Acredito que tenha respondido todas as questões levantadas lá no início do texto e espero que, de agora em diante, vocês possam questionar suas escolhas alimentares e o modo como a indústria alimentícia se comporta. Deixo uma fala da Irany Arteche [4]: se ao nos alimentarmos produzimos muitos resíduos, estamos sendo indignos. Precisamos mudar isso! O ato de comer ainda gera muitas reflexões, por hora nutra-se de comida de verdade!

[1] https://www.ecycle.com.br/3907-alimentos-in-natura-processados-ultraprocessados.html

[2] https://abeso.org.br/alimentos-processados-e-ultraprocessados/

[3] Referencia de leitura: Milton Friedman, “pai do capitalismo moderno”, publicou um ensaio famoso em 1970 no NY Times chamado “The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits,” 

[4] Irany Arteche é nutricionista não convencional, a criadora do terno PANC (2008) e pra ela a comida deve fazer bem ao corpo, à alma e ao ambiente @irany.arteche